sábado, 4 de dezembro de 2010

Afinal o que é o preconceito?

"Para bem conhecer uma coisa é preciso tudo ver, tudo aprofundar, comparar todas as opiniões, ouvir os prós e os contras" - Allan Kardec [Revista Espírita, setembro de 1866]

Para dar introdução à crítica do livro que li recentemente: Tambores de Angola, realizei uma consulta rápida em um dos "pai dos burros" mais conhecidos, o Aurélio. E a palavra que está diretamente ligada com o que fala o livro é o preconceito.

preconceito . [De pre- + conceito.] S. m. 1. Conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; idéia preconcebida. 2. Julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste; prejuízo. 3. P. ext. Superstição, crendice; prejuízo. 4. P. ext. Suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões, etc.

Escolhi essa palavra, porque foi tentando eliminá-la que resolvi aceitar a leitura desse livro. Tambores de Angola me levou ao candomblé, à umbanda, à Africa antiga, Aruanda e às palavras perdão e caridade. Escrito por Robson Pinheiro, que incorporou o espírito Ângelo Inácio, o livro conta a história de Erasmino, morador da cidade de São Paulo, que com problemas espirituais, mas corretamente dizendo obsessões, incentivadas pela vida baseada em sexo, bebidas e atitudes que tinha, se viu incorporando um espírito, inimigo de outras reencarnações que queria vingança. Esses mesmos efeitos físicos faziam da vida dele uma desordem, porque, sem conhecimento e não acreditando em nenhuma religião, não buscava ajuda. Durante as explicações sobre as duas religiões, o narrador (Ângelo Inácio), que era inclusive, um jornalista desencarnado, conta a história de Erasmino e como ele se encontra com a umbanda e a doutrina espírita.

Por falar em vingança, infelizmente, foi ela um dos motivos do preconceitos que as pessoas tem contra essas religiões. Pelo que li, tudo começou na época da escravidão, em que milhares de negros foram transportados para o Brasil como animais e desrespeitados em seus cultos. Com toda revolta, muitos dedicavam suas oferendas para espíritos trevosos, que se alimentavam de ódio e rancor contra o homem branco. Há uma passagem do livro que explica como isso ocorreu.

"Desde que os negros foram tirados de sua terra, na África, vieram para o Brasil com o rancor e o ódio em seus corações, pois muitos foram enganados pelo homem branco e feitos prisioneiros e escravos, feridos em sua dignidade, distantes da pátria e dos que amavam. Foram transcorrendo os anos de lutas e dores, e o negro mantinha, em seus costumes e na religião, a invocação das forças da natureza, as quais chamavam de orixás, espécie de deuses a quem cultuavam com todo fervor de suas vidas. Aprenderam com o tempo a se vingar de seus senhores e déspotas, através de pactos com entidades perversas e com a magia negra, que outra coisa não era senão as energias magnéticas de forma equivocada. (...) A psicosfera criada no ambiente da nação brasileira foi de tal maneira violenta que entidades ligadas aos lugares de sofrimento nas senzalas encarnavam e desencarnavam conservando ódio nos corações, com exceção daquelas que entendiam o aspecto espiritual da vida".
Porém, entidades desenvolvidas espiritualmente começaram um trabalho no plano espiritual, para desfazer esses cultos à magia negra, com entidade iluminadas que modificariam suas formas perispirituais, assumindo a conformação de pretos-velhos e caboclos, que levariam a mensagem de caridade por meio da umbanda.

Uma coisa que achei interessante em toda a leitura, é que há explicações plausíveis, porque retrata um Brasil colônia, explorado por homens brancos sujos, que subordinavam uma raça que achavam ser insignificante pela cor e credo. Além disso, o livro me fez refletir em tanta incompreensão, falta de humildade e amor, que é o momento que o mundo vive, não só o país. O desrespeito com o próximo, a chacota contra o Deus do outro, mas que com essa leitura, percebi que Jesus pode ser Yeshua, Oxalá, Jeová, Yová, entre outros.

Para quem não tem preconceito, vale dar uma lida! Achei que, mesmo que as pessoas encarem como duvidoso, aflora, pelo menos em mim senti isso, um sentimento de respeito às escolhas e opiniões do próximo, porque, afinal, não somos os donos da verdade, muito menos do livre arbítrio individual. Isso entra em dois mandamentos que, incansavelmente, tento inserir cada vez mais no meu dia a dia: Amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo com a ti mesmo.

E para finalizar, deixo uma trecho da música "Palmares" e em um outro post o vídeo do Natiruts, de 1999, que fala um pouco sobre a crítica à cor e ao candomblé.

(...) Por isso temos registrados em toda história
Uma mísera parte de nossas vitórias
É por isso que não temos sopa na colher
E sim anjinhos pra dizer que o lado mal é o candomblé
A energia vem do coração
E a alma não se entrega não (...)

3 comentários:

  1. Sensacional!!Como umbandista que sou, que já tive medo do desconhecido, mas que hoje levanto a bandeira dessa religião linda com orgulho, sei como o preconceito é grande!Mas aqui, onde nós, seres humanos, que como voce disse, imperfeitos, vivemos, há ainda, infelizmente, um enorme preconceito, mas de onde vem essa luz e essa sabedoria toda, seja do Candomblé, Umbanda, ou qualquer outra religião, Deus, seja ele chamado como for, é um só!E que bom seria se, todas as criaturas não dotadas da perfeição (humanos), fossem curiosos assim, dispostos a quebrar tabus e conhecer, de verdade, a vida como um todo!!
    Parabéns pelo texto Fe!!Vou aguardar pra ver os textos depois que ler os outros dois livros!
    Grande beijo!!

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  2. Querida, que post MARAVILHOSO.
    Sabia que o fato do espírito de Ângelo ter sido jornalista na última encarnação teria tudo a ver com vc.
    Tudo que vc disse é verdade, o preconceito sobre essas religiões é enorme, as pessoas tem medo sem ao menos saber o qual o objetivo dessa religião.
    Não existe criatura mais humilde que um preto-velho, ele prega a humildade, ele ensina que a caridade é o que falta para o ser humano.
    Eu aprendi respeitar e logo depois amar a umbanda. Não importa como se chama seu Deus, importa que Ele existe e está dentro de vc.
    E digo mais, umbanda é mais que religião, é cultura, qdo vc pisa num terreiro e ouve os tambores, dá um arrepio, uma sensação que não sei descrever... Dá pra sentir que esse é o nossos País, isso é o nosso Brasil. Faz parte da nossa cultura, da nossa história!! Vc ainda está com medo, mas tenho certeza que um dia vai sentir isso que eu lhe digo.
    Fico feliz em saber que vc gostou do livro e mais ainda que ajudei mais uma pessoa não ter preconceito. Se quiser, tenho mais livros, aquele que te dei, o Guardião da Meia Noite vai abrir sua mente sobre os Exus de uma forma incrível, os temidos Exus... rs
    Amiga, te amo. Parabéns pelo post. AMEI!!
    Okê Caboclo!!

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  3. Olá mafê, a amanda me alertou sobre seu blog e mais precisamente sobre seu ultimo texto, resolvi conhecer, primeiro quero parabeniza-la pela organização e pelos assustos que aborda. Bem, eu sou pouco suspeito pra falar sobre espiritualidade,umbanda,candomblé etc... convivo com isso desde muito cedo, pra mim é muito natural,só gostaria de resaltar a todos que quanto mais se pesquisa sobre os espiritos de aruanda mais se tem para descobrir, é muito vasto, muito amplo que até muitos espiritualistas não se dão conta, tbm tive a mesma visão que vc sobre o livro, mais tbm gostaria de acrescentar que essa lição vale para TODOS, até mesmo para muitos umbandistas e candonblésistas que se dizem os donos da razaõ, pois o preconceito e a falta de coerência esta em todas as partes!! parabens, bjus . heros!!

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